“O senhor gosta da profissão de padre?” Ouvi diversas vezes essa pergunta vinda de muitos dos meus alunos e alunas. Sempre […]
Publicado em: 6 novembro 2011
“O senhor gosta da profissão de padre?” Ouvi diversas vezes essa pergunta vinda de muitos dos meus alunos e alunas. Sempre senti que por trás da pergunta uma outra dúvida talvez maior: afinal, existe a profissão de padre? Ela é igual às outras? Se não é, o que a faz diferente? Isso mexe com outros assuntos mais profundos.
Aqui vale em primeiro lugar uma distinção clara entre VOCAÇÃO e PROFISSÃO. Na verdade a segunda deve ser sempre precedida da primeira. Imagine você um médico muito profissional e não vocacionado para a medicina. Um desastre, certamente! Ou ainda qualquer outro profissional, um ator, por exemplo, sem a vocação para aquele campo. Impensável, não?
Agora imagine isso quando se trata de um padre. É diferente? Claro que sim. E por quê? A diferença é que todo padre deve deixar de lado o fato de ser um “profissional do altar” e abraçar a missão como um chamado um dia a ele feito. Daí que não se fala sobre a “profissão de padre” mas sobre a “vocação de padre”.
Para entender melhor, vamos fazer aqui algumas comparações importantes: na profissão, você escolhe qual delas você quer seguir; na vocação, você é escolhido e chamado para aquela missão. Na profissão, você facilmente muda de rumo quando aquele trabalho não lhe está sendo satisfatório, inclusive do ponto de vista econômico; na vocação se fala de uma “opção de vida”, e se eu opto por isso, sou chamado a levar até o fim o ideal que abracei.
Padre que encara a vocação como profissão esbarra sempre no vazio e na perda de sentido para a sua vida. Isto porque seguimos uma Pessoa, um Homem com uma proposta muito exigente que tem como conseqüência última a cruz que nos vem nas mais diversas formas de nossa vida sacerdotal.
Que bom que ainda hoje existem jovens que se perguntam sobre a sua vocação em primeiro lugar para depois se questionarem sobre qual profissão querem seguir. Dou aulas hoje em dois seminários e vejo naqueles jovens uma coisa bonita: a alegria pela opção que fizeram. Porém, todos eles, antes de entrarem para o seminário, se perguntaram sobre sua vocação e descobriram a beleza dos três modos de chamados que são feitos a cada pessoa: viram que foram inicialmente chamados à VIDA, ou seja, a vocação HUMANA. Foram chamados em primeiro lugar a ser GENTE no mundo. Um profissional que sabe disso, exercerá, sem dúvidas, a sua profissão com muito mais qualidade.
O segundo chamado que nos foi feito um dia é para sermos CRISTÃOS. Essa vocação vem do novo nascimento através do BATISMO. Vivendo bem o batismo que nos faz filhos de Deus, imortais e pertencentes a uma comunidade de fé, a profissão terá muito mais sentido.
E, por fim, o chamado à VOCAÇÃO CRISTÃ ESPECÍFICA, ou seja, cada um com o dom de Deus exercendo suas habilidades onde Deus o quer, é chamado a SERVIR. Por isso hoje se fala tanto de uma coisa chamada alteridade (alter, no latim = outro), ou seja, para um bom cristão a felicidade do outro importa, assim como a sua infelicidade deve incomodar também a mim. Profissão que vai por aí se torna vocação por excelência.
Todo cristão tem essa tríplice dimensão do ser chamado. Você, que é jovem, especialmente aqueles que estão em fim de curso de ensino médio às portas de uma universidade, deve andar se perguntando sobre qual vocação você tem. Penso que vale a pena se perguntar sobre essas três situações: Deus me chamou para ser gente, para ser cristão e para servir. Aí está o grande sentido de viver aqui. Viver assim é bem melhor e a gente poder ser muito mais feliz. Que tal pensar nisso?
Mês que vem a gente se encontra pra trocar mais idéias. Aguardo sua opinião, comentário e até crítica sobre o que conversamos.
Um xero. Deus abençoe a todos.
Pe. Edson Rodrigues